sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Anjo Renegado

Caindo. Caindo como um anjo renegado. Um anjo expulso do seu mundo, da sua família, do seu Clã. Implorando para uma aterrissagem macia. Mas não. A queda é dura e fria. A pancada é imensa e dói muito. O corpo agora sem tanta resistência parece que foi atropelado por uma manada de hipopótamos bêbados. Cada osso torcido e retorcido. Cada molécula fora mexida e surrada. Mas ainda estou vivo. O sangue quer coagular, mas eu não deixo misturando ele com vinho vagabundo comprado em qualquer boteco de bairro.  As asas já não tenho mais. Eu não posso mais voltar de onde sai. Contra a minha vontade diga-se a verdade. Não importa. Agora a dor vai passar e vou ter que aprender a viver com vocês. Minha mente ainda não acostumou com as coisas, com esta nova situação. Esta fora de mim conseguir guiar os pensamentos. Os instintos não deixam me concentrar no que está errado e assim não consigo distinguir o que é o errado. O errado erradia luz por todos os lados. Chega a ser mais forte que qualquer coisa que conheço. Chega a massacrar a moral cultivada por anos em nossas vidas e que agora não faz mais sentido. Hoje nem sei se algum dia fez sentido. A verdade se esconde dentro de uma gruta escura e fria. Não vai sair agora não. É para esperarmos em silencio. Trabalharmos sem esperar nada. Andar como uma armadura vazia e fazer o que nos disseram pra fazer.

Só que não!

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Como poderia supor...

Como poderia supor isso. Como poderia supor que não passo de ultrajante decálogo que estorva a continuação da existência. De todos os medos, frustrações e besteiras que fiz na vida, tudo se resume á estes dez tropeços que determinaram o meu futuro. Acreditar, acreditar e acreditar. Que lei é essa que controla tudo que existe. Até para não acreditar temos que ter uma disposição que nos exalta e eleva para sairmos do nosso prumo. Esquecido e preso entre argumentos profanos que não traduzem nada de sua vida. Penso e logo existo como um verme caminhando pela superfície de um planeta do tamanho de uma maçã que aos pouco vai se deteriorando. Como pode isso. Estou com medo sim. Mas o pior sempre vem. E se vem. Ele sempre marcou presença desde cedo e nem por causa disso elegi a discórdia para governar a minha vida, minhas ações, meus desígnios. Não sou o esplendido homem de marcas deixadas na história como também não me vi na obrigação de sê-lo. O relaxamento hoje parece impossível e olhar pra trás só me traz mais dor e desespero. Às vezes estou calmo e sereno. Às vezes estou chato e sofrendo. O canto das aves se alterna com o som das máquinas que costumam surrar metais para transforma-los em outra coisa. Musica metal, sons e ferro. Ser um homem e ser de ferro. Como poderia supor que ser leve pra mim era impossível. Como supor que descansar pra mim não poderia ser uma opção. Como supor que a cobrança sempre foi maior que os benefícios. O esforço estendido só me faz cansar as pernas e os braços que não sei mais pra que servem. Escalas e dissonâncias não abraçam mais as razões de meus sonhos. Estou triste pelo percorrido. Estou triste pelo ocorrido. A morte agora começa a cobrar a sua conta e eu não tenho a verdadeira estrutura para pagar. Não tenho renda. Não tenho nada. Mas ela cobra mesmo assim. Como uma aranha decrepita que lança suas teias pegajosas sore nós, como insetos que não valem uma esmagada.