Como poderia supor isso. Como
poderia supor que não passo de ultrajante decálogo que estorva a continuação da
existência. De todos os medos, frustrações e besteiras que fiz na vida, tudo se
resume á estes dez tropeços que determinaram o meu futuro. Acreditar, acreditar
e acreditar. Que lei é essa que controla tudo que existe. Até para não
acreditar temos que ter uma disposição que nos exalta e eleva para sairmos do nosso
prumo. Esquecido e preso entre argumentos profanos que não traduzem nada de sua
vida. Penso e logo existo como um verme caminhando pela superfície de um
planeta do tamanho de uma maçã que aos pouco vai se deteriorando. Como pode
isso. Estou com medo sim. Mas o pior sempre vem. E se vem. Ele sempre marcou
presença desde cedo e nem por causa disso elegi a discórdia para governar a
minha vida, minhas ações, meus desígnios. Não sou o esplendido homem de marcas
deixadas na história como também não me vi na obrigação de sê-lo. O relaxamento
hoje parece impossível e olhar pra trás só me traz mais dor e desespero. Às vezes
estou calmo e sereno. Às vezes estou chato e sofrendo. O canto das aves se
alterna com o som das máquinas que costumam surrar metais para transforma-los
em outra coisa. Musica metal, sons e ferro. Ser um homem e ser de ferro. Como
poderia supor que ser leve pra mim era impossível. Como supor que descansar pra
mim não poderia ser uma opção. Como supor que a cobrança sempre foi maior que
os benefícios. O esforço estendido só me faz cansar as pernas e os braços que
não sei mais pra que servem. Escalas e dissonâncias não abraçam mais as razões
de meus sonhos. Estou triste pelo percorrido. Estou triste pelo ocorrido. A morte
agora começa a cobrar a sua conta e eu não tenho a verdadeira estrutura para
pagar. Não tenho renda. Não tenho nada. Mas ela cobra mesmo assim. Como uma
aranha decrepita que lança suas teias pegajosas sore nós, como insetos que não
valem uma esmagada.
